quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Miroca



Dessa saudade só eu que sei. E como sei. A falta que você faz na minha vida não cabe em palavras. Ainda me lembro daquele dia que entrou dentro do carro novo, aquele que você lutou tanto pra conseguir comprar e me perguntou o quanto eu acreditava em Deus, eu, criança que era, disse que acreditava muito, então me disse que estava com câncer e que eu deveria continuar acreditando n'Ele que tudo daria certo. Esse deve ser um dos motivos da minha atual descrença, acreditei tanto que Ele me daria milhares de dias maravilhosos ao seu lado, mas esses dias se limitaram e pouco menos que quatro anos depois do dia do carro. E reclamo, não pelos quatro anos, porque esses foram maravilhosos, diria até que melhores que uma vida, mas porque foram apenas quatro. Se fizemos tanto nesse tempo, o que não poderíamos fazer por mais quatro e mais quatro e mais quatro? Poderíamos multiplicar nossas idas à praia, Ubatuba, lembra? Peguei tanto sol que nem conseguia me mexer. Ou Florianópolis, pra andarmos de barco, ficarmos e uma pousada qualquer e passearmos nas dunas. Poderíamos ir ao cinema, ou melhor, aos cinemas, todos eles, de todos os lados de São Paulo. E nessa cidade, poderíamos andar de metrô, um dia inteiro fazendo isso, parar na Sé, sentar na escadaria e ficar vendo todo mundo passar. Poderíamos fazer compras de natal na 25, como sempre fizemos com o dinheiro do cofre de moedas. Poderíamos passar na locadora, tarde da noite, e alugar os filmes mais loucos possíveis, pedir pizza e tirar 2 ou 1 pra ver quem ia esperar o motoboy chegar. Poderíamos continuar trocando de operadora a cada nova promoção pra gente se falar mais, porque, apesar do amor, a distância sempre foi um problema. E poderíamos continuar com  nossas loucuras no cabelo, curto, longo, coloridos. Cabelo... Enfim, poderíamos continuar nossa amizade, aquela, a mais sincera, entre mãe e filha, eternamente, como me prometeu que seria. Odeio promessas quebradas.


(Contribuição pra Corrente Literária "Me conta um pouco sobre essa saudade...")

3 comentários:

  1. Chorei, me emocionei. Amo quando as palavras me emocionam...

    Lindo!
    Bjos.

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  2. Nossa, que negócio lindo.
    Triste, mas sabidamente colocado no momento certo, com as palavras corretas e com o tom de amor que só a saudade pode trazer,

    Beijo grande em você, Milena!

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  3. Que lindo, Milena ! Me deixou com lágrimas nos olhos...
    Estou conhecendo seu trabalho agora e me encantando !

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